Exercícios e cognição
Prof. Dra. Julia M. D. Greve
12/08/2019
Os exercícios físicos moderados e rotineiros têm sido associados, há muito tempo, com a melhora das funções cognitivas em crianças e idosos. Vamos mostrar, nesta publicação alguns efeitos dos exercícios sobre as atividades cerebrais.
O que acontece com o cérebro durante a realização dos exercícios?
Os exercícios promovem algumas alterações no cérebro, que podem ser divididas em:
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Ações Diretas (Kamijo et al 2009) (Figura 1)
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aumento do fluxo sanguíneo cerebral;
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ativação dos neurotransmissores envolvidos na função cognitiva.;
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melhora do humor com efeito positivo na função cognitiva.
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Figura 1 – Ação direta do exercício no cérebro. Fonte
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Ações Indiretas (Kashihara et al, 2009; Tolppanen et al, 2013; Numakawa et al, 2014; Wrann et al, 2014)(Figura 2)
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Aumento de produção da proteína muscular FNDC5, que entra na circulação como a molécula irisina, que estimula os genes responsáveis pela memória e aprendizado.
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Estimula a produção de BDNF (fator neurotrófico derivado do cérebro), que regula a inflamação, melhora a transmissão de sinais dentro das células e regula a função das sinapses (comunicação entre as células nervosas).
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Outra função do BNDF seria retardar a morte celular e uma das possíveis aplicações clínicas seria usar esta substância no controle dos sintomas das demências.
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Figura 2 - Ações indiretas exercícios Cérebro. Fonte
Evidências dos efeitos dos exercícios na função cognitiva
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Crianças (Ellemberg, et al, 2009)
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Crianças ativas, que fazem 30 minutos de atividade aeróbia, rotineiramente, tem melhor desempenho em tarefas que demandam reação e respostas rápidas que as crianças inativas.
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Estimular uma vida ativa é obrigação dos pais, e educadores.
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Vida adulta (Zhu et al, 2014)
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Os benefícios cognitivos dos exercícios são duráveis. Pessoas com boa condição cardiorrespiratória na juventude tendem a ter melhor função cognitiva na meia idade (43-55 anos) que os demais.
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Pessoas foram testadas na esteira ergométrica com 25 anos e 50 anos de idade. Os resultados mostraram que aqueles que tiveram menor perda da capacidade cardiorrespiratória tinham melhor condição cognitiva: memória verbal, funções executivas (capacidade de memória no trabalho, habilidades críticas e analíticas: multitarefas, planejamento, execução e resolução de problemas), além de maior velocidade psicomotora (pensar e fazer).
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Os achados do trabalho acima estimulam a manutenção das atividades físicas durante toda a vida, pois os benefícios são inegáveis.
Velhice
Tolppanen et al (2014) mostraram que:
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O declínio cognitivo se associa com o envelhecimento, assim como o aumento do risco do desenvolvimento de doenças neurodegenerativas: Alzheimer e outras demências. O efeito dos exercícios nas funções cognitivas e na sua capacidade de prevenir as demências é um assunto muito estudado e os achados são promissores.
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Pessoas ativas na meia idade tem risco menor de desenvolver a doença de Alzheimer e outras demências na velhice.
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Ser fisicamente ativo na meia-idade pode adiar o início dos quadros demenciais.
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Atividades moderadas, duas ou mais vezes por semana tem um grande efeito neuroprotetivo independente de idade, sexo e outras possíveis susceptibilidades genéticas.
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Maior efeito em pessoas obesas ou com sobrepeso, possivelmente efeito associado ao sedentarismo anterior.
Ser uma pessoa ativa da infância à velhice ajuda no envelhecimento saudável do corpo e da mente (Figura 3).
Figura 3 – Efeitos dos exercícios nas sinapses cerebrais com aumento das conexões intermediárias e finais. Fonte
Intensidade dos exercícios
Os exercícios moderados, feitos de duas a três vezes por semana sem sobrecargas e treinamento excessivo são eficientes para estimular as funções cognitivas. Também, há indícios que somente os exercícios moderados são benéficos à cognição. Exercícios/ esportes extenuantes e extremos podem ser prejudiciais na estimulação das funções cognitivas (Figura 4).
Figura 4 - Efeitos do exercício na plasticidade cerebral e ambiente cerebral. Fonte
Como tudo na vida, moderação é importante, quando se busca a preservação da saúde e bem-estar e é particularmente importante na escolha e prática de atividades físicas. Assim, exercícios bem orientados, feitos com moderação, na medida exata para promover mudanças na sua capacidade funcional, são úteis na prevenção das demências.
Quais exercícios fazer?
Atualmente, os conhecimentos sobre exercícios, e seus efeitos são muito grandes, mas ainda, a informação mais importante é que o exercício precisa ser adequado às necessidades individuais de cada um. Nosso corpo foi feito para se exercitar e desta forma permanece, mas saudável, quando realiza exercícios de forma rotineira.
Yu-Ka et al (2011) fizeram uma revisão extensa sobre a ação da musculação nas funções cognitivas e referem que há um efeito benéfico dos exercícios resistidos na cognição e que não existem diferenças em relação aos exercícios aeróbios, isto é, ambos são capazes de estimular a cognição, por vias e estímulos distintos (Figura 5).
Figura 5 – Efeitos dos exercícios nas funções cognitivas. Fonte
A ciência atual aponta que a prática regular de atividades físicas traz benefícios para o corpo e para a mente, sem diferença evidente entre os tipos de exercícios, com relação aos resultados obtidos. Um programa com exercícios aeróbios e resistidos tem efeito maior na plasticidade cerebral.
Como já temos falado, ao longo das outras publicações deste blog, os benefícios da musculação para prevenir e tratar as doenças musculoesqueléticas e a sarcopenia, são reconhecidos, principalmente para a população mais velha, por ser mais seguro e eficiente. Por este motivo, muitas associações médicas recomendam a prática de musculação pelos idosos pelo seu efeito na melhora da qualidade de vida, independência, longevidade e mais recentemente, melhora na função cognitiva.
A principal mensagem deste artigo é: faça exercícios, exercite sua mente, mantenha bons hábitos alimentares e de sono e por fim, valorize suas relações familiares e afetivas, pois com saúde, você será mais feliz.
Referências Bibliográficas
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Kamijo, K., Hayashi, Y., Sakai, T., Yahiro, T., Tanaka, K., & Nishihira, Y. (2009). Acute Effects of Aerobic Exercise on Cognitive Function in Older Adults The Journals of Gerontology Series B: Psychological Sciences and Social Sciences, 64B (3), 356-363 DOI: 10.1093/geronb/gbp030
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Kashihara, K., Maruyama, T., Murota, M., & Nakahara, Y. (2009). Positive Effects of Acute and Moderate Physical Exercise on Cognitive Function Journal of PHYSIOLOGICAL ANTHROPOLOGY, 28 (4), 155-164 DOI: 10.2114/jpa2.28.155
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Ellemberg, D., & St-Louis-Deschênes, M. (2010). The effect of acute physical exercise on cognitive function during development Psychology of Sport and Exercise, 11 (2), 122-126 DOI: 10.1016/j.psychsport.2009.09.006
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Yu-Kai Chang, Chien-Yu Pan, Feng-Tzu Chen, Chia-Liang Tsai, and Chi-Chang Huang (2012). Effect of Resistance-Exercise Training on Cognitive Function in Healthy Older Adults: A Review. Journal of Aging and Physical Activity, 2012, 20, 497-1 © 2012 Human Kinetics, Inc.
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Numakawa, T., Richards, M., Nakajima, S., Adachi, N., Furuta, M., Odaka, H., & Kunugi, H. (2014). The Role of Brain-Derived Neurotrophic Factor in Comorbid Depression: Possible Linkage with Steroid Hormones, Cytokines, and Nutrition Frontiers in Psychiatry, 5 DOI: 10.3389/fpsyt.2014.00136
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Tolppanen, A., Solomon, A., Kulmala, J., Kåreholt, I., Ngandu, T., Rusanen, M., Laatikainen, T., Soininen, H., & Kivipelto, M. (2014). Leisure-time physical activity from mid- to late life, body mass index, and risk of dementia Alzheimer’s & Dementia DOI: 10.1016/j.jalz.2014.01.008
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Wrann, C., White, J., Salogiannnis, J., Laznik-Bogoslavski, D., Wu, J., Ma, D., Lin, J., Greenberg, M., & Spiegelman, B. (2013). Exercise Induces Hippocampal BDNF through a PGC-1?/FNDC5 Pathway Cell Metabolism, 18 (5), 649-659 DOI: 10.1016/j.cmet.2013.09.008
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Zhu, N., Jacobs, D., Schreiner, P., Yaffe, K., Bryan, N., Launer, L., Whitmer, R., Sidney, S., Demerath, E., Thomas, W., Bouchard, C., He, K., Reis, J., & Sternfeld, B. (2014). Cardiorespiratory fitness and cognitive function in middle age: The CARDIA Study Neurology, 82 (15), 1339-1346 DOI: 10.1212/WNL.0000000000000310