O que é hérnia de disco?

Prof. Dra. Julia M. D. Greve

16/03/2019

O disco intervertebral é a estrutura que ajuda manter a estabilidade da coluna vertebral, permite os movimentos do pescoço, tronco e da região lombar e também funciona como amortecedor das forças exercidas sobre a coluna vertebral.

Para fazer todas estas funções, sua estrutura é complexa, pois precisa ser resistente, forte e flexível, tudo ao mesmo tempo.

Na Figura 1 pode se ver a estrutura do disco intervertebral. O disco tem uma capa externa mais rígida, o anel fibroso, menos sensível às deformidades. Mantém a forma do disco e funciona como um estojo do núcleo pulposo. Este, por sua vez, é uma estrutura gelatinosa, mais aquosa e que tem um papel muito importante na absorção dos impactos.

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Figura 1 - Corte transversal do disco intervertebral. Fonte

O ânulo fibroso é constituído de uma série de camadas, mas é mais rígido e resistente à deformação, enquanto o núcleo pulposo é mais susceptível à deformação, pois é um tecido mais esponjoso.

O disco intervertebral é uma estrutura que suporta as cargas e pressões do nosso corpo quando estamos em pé, sentados e nos movimentando, e por isso pode se desgastar com o envelhecimento, com esforços excessivos (esportes, trabalho) e traumas. Quando se coloca carga sobre o disco (em pé, sentado, movimentos) o disco se deforma principalmente no núcleo pulposo (Figura 2).

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Figura 2 – Deformação do disco deformação do disco intervertebral durante os movimentos do tronco. Fonte.

O envelhecimento, traumas e sobrecargas podem causar danos nas duas estruturas que compõem o disco intervertebral.

Uma das doenças da coluna vertebral mais conhecidas é a hérnia de disco. O anel fibroso, a estrutura mais rígida pode se romper e o núcleo pulposo, pela sua consistência gelatinosa extravasa e forma a hérnia de disco (Figura 3).

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Figura 3 – Disco normal e com hérnia. Fonte.

Os sintomas da hérnia são variados e dependem para onde o material extravasado migrou e que estruturas foram afetadas.

No caso de uma hérnia que causa compressão da raiz nervosa, o sintoma mais frequentes é a dor lombar com irradiação para o território inervado pela raiz comprometida. Podem ocorrer de forma concomitante: perda ou diminuição da sensibilidade e da motricidade, também no território inervado pela raiz comprometida.

A inervação sensitiva e motora do nosso corpo segue um padrão anatômico: as raízes nervosas da coluna cervical inervam os braços; da coluna torácica do tronco e da coluna lombar das pernas, assim os sintomas de uma hérnia de disco são variáveis. A Figura 4 mostra o mapeamento da inervação do nosso corpo. Cada nível de inervação é chamado de dermátomos.

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Figura 4 – Mapeamento da inervação sensitiva e motora do corpo humano (dermátomos). Fonte.

A dor ciática, dor irradiada na região posterolateral da perna, pode ser consequência de uma hérnia de disco na região lombar, que esteja causando uma compressão nervosa das raízes que formam o nervo ciático (Figura 5). Importante lembrar que nem toda dor ciática é causada por hérnia de disco. Sempre o diagnóstico precisa ser feito por um médico.

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Figura 5 – Hérnia de disco causando dor ciática (dor irradiada). Fonte.

A hérnia de disco também pode ocorrer na região cervical com dor irradiada para os braços (Figura 6).

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Figura 6 – Hérnia de disco cervical e regiões de dor irradiada. Fonte.

A hérnia de disco pode ocorrer de forma aguda com dor intensa e grande limitação funcional e que se inicia de forma abrupta. Pode ou não estar associada a sobrecargas / esforços realizados anteriormente. Mas, também, a hérnia de disco pode causar uma dor insidiosa, menos intensa, progressiva e relacionada com movimentos e posições. Pode estar associada à degeneração progressiva do disco intervertebral como visto na Figura 7.

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Figura 7 – Estágios de formação da hérnia de disco. Fonte.

O diagnóstico da hérnia de disco é feito pelo exame físico e pela imagem (ressonância nuclear magnética). Algumas vezes, a queixa e quadro clínico dos pacientes não são coincidentes com a imagem vista na ressonância, fato que pode indicar que dor não é causada pela hérnia e sim por outro motivo. A presença desta relação é muito importante, principalmente quando há necessidade de uma cirurgia.

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Figura 8 – Sinal de Lasègue – sinal clínico de compressão da raiz nervosa. Fonte.

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Figura 9 – Hérnia de disco lombar vista por ressonância nuclear magnética. Fonte.

O disco intervertebral sofre um processo degenerativo com o envelhecimento e podem ocorrer hérnias de disco assintomáticas. Estas alterações, consequências do processo natural do envelhecimento, quando detectadas, precisam ser informadas de forma adequada aos pacientes, orientando-os em relação aos exercícios e atividades da vida diária, mas sem alarmismos desnecessários.

Falaremos sobre o tratamento da hérnia de disco no próximo artigo: medicamentos, fisioterapia, esportes e atividade física e cirurgias.